terça-feira, 18 de agosto de 2015

Ressaca

Fique você sabendo que às vezes eu te odeio.
Eu odeio as borboletas no meu estômago que brotam quando te vejo. Odeio quando passa por mim sem me cumprimentar e odeio ainda mais quando se vai sem se despedir de mim. Eu odeio como meu humor muda drasticamente quando você está por perto. Odeio quando você me olha nos olhos por tempo demais e faz com que eu me sinta transparente, como se você fosse capaz de ver tudo que se passa dentro de mim. Odeio a sua postura de quem não se importa com nada, e odeio ainda mais quando acredito que essa sua postura é real comigo também.
Eu odeio quando você insiste em dizer que está tudo bem quando eu posso ver estampado na sua cara que isso é uma enorme mentira. Odeio te ver voltando a velhos hábitos e odeio sentir que meu apoio não te vale de nada as vezes. Odeio o modo como você parece nunca conseguir ficar quieto por mais de meio segundo. E talvez seja paranoia minha, mas eu realmente odeio quando percebo de canto de olho que você pede para alguém falar mais baixo quando o assunto não me seria interessante.
Eu odeio o sabor amargo que a sua música favorita me deixa nos lábios quando a escuto agora, odeio também esse vazio que aparentemente nem todas as garrafas de vodca no universo conseguiriam preencher; já que mesmo quando meu cérebro não consegue controlar meus membros a memória de você continua lá, boiando em meio ao álcool. Como eu odeio isso... Odeio o quão triste eu fico quando te escuto bater a porta do carro. Odeio quando você não responde minhas mensagens e odeio ainda mais quando as responde com uma palavra.
Eu odeio lembrar da cor dos seus olhos na penumbra, tão próximos dos meus que minha visão embaçava levemente. Odeio o toque de seus dedos no meu rosto. Odeio como me faz rir. Odeio o nervosismo ridículo que toma conta de mim quando sei que vou te encontrar, e também odeio o sentimento que me toma quando não te vejo. Odeio quando ficamos sem nos falar por muitos dias e não consigo vencer esse meu orgulho inútil. Odeio lembrar de alguma coisa aleatória que disse tempos atrás e como eu sempre acabo rindo, por mais sem graça que a memória seja.
Eu odeio desejar que você estivesse ao meu lado em momentos aleatórios do dia, e odeio sentir saudade de como as coisas eram no início. Odeio como de repente tudo parece me lembrar você e o quão cansativo isso tudo é. Odeio sentir o ciúmes aquecendo meu sangue quando você insiste em me contar das garotas do passado, odeio também imaginar quais são as do presente. Odeio o quanto me divirto ao seu lado e quão sem sentido algumas coisas parecem ser quando você não está por perto. Odeio as bitucas de cigarro que você deixa por aí. Odeio o fato de ter que controlar a minha respiração e me concentrar ao máximo para não deixar umas lágrimas teimosas me escaparem enquanto escrevo isso. Odeio não conseguir te dizer tudo isso pessoalmente.
Eu odeio ainda mais não conseguir dizer o que eu sinto por você. Mesmo que eu acredite que você já saiba, o que me faz te odiar um pouquinho mais por não tocar no assunto. Às vezes eu te odeio. Às vezes sinto vontade de te virar as costas e nunca mais voltar. E eu não consigo. Não consigo porque não importa quantos milhões de coisas eu odeie em você, de alguma forma elas sempre me parecem insignificantes perto de tudo o que eu adoro em você. A lista é igualmente grande. Eu odeio muitas coisas em você, mas acima de tudo eu odeio a forma com que eu nunca consigo te odiar.
E eu me odeio por isso. 



Por Mariana J.

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